sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Os serviços na India

Em Portugal é sabido, há largos anos, que todo e qualquer serviço prestado (salvo raras excepções) funciona mal . Ninguém está para trabalhar muito, ninguém está para se chatear muito, por isso faz-se pouco. As finanças funcionam mal, os hospitais funcionam mal, os correios funcionam mal (desculpa pai, mas esta tinha que ser posta aqui).
Após ter estado em Macau durante um ano e onde tive contacto com pessoas de diversas nacionalidades cheguei à conclusão que o mal não é exclusivamente português. Pelos vistos os serviços funcionam mal um pouco por toda a parte.

Ora, a Índia, apesar de ser um mundo à parte (e que à parte...) também não escapa, obviamente, a esta estranha doença de que padecem os serviços. O problema aqui prende-se com o facto de, como já referi anteriormente, os indianos serem ainda mais lentos e ainda mais preguiçosos que os portugueses.

A história que vos conto em seguida passou-se em Dezembro e já a devia ter descrito há mais tempo (mas quem está na Tailândia não tem tempo para estas coisas). Tudo começou quando o computador portátil que eu trazia se avariou. Tive que pedir aos meus pais que me enviassem outro de Portugal. Em seguida deixo a cronologia desde o dia em que ele sai de minha casa em Lisboa até ter chegado às minhas mãos na India

4 Dez - O meu pai envia pela DHL (convém relembrar que estamos a falar da DHL, uma das maiores empresas do mundo no seu ramo) o referido portátil.

8 Dez - Olho para o telemóvel e tenho uma chamada não atendida de um número estranho. Tento ligar de volta mas ninguém atende

12 Dez - Volto a ter uma chamada não atendida do mesmo número. Volto a tentar ligar e nada feito.

13 Dez - Ligam-me de Portugal, dos Correios, a dizer que o meu portátil tinha ficado retido na alfândega na Índia... Oh meu Deus... o que me foi acontecer.

Desde o dia 13 Dez até ao Dia 17 ligo todos os dias para a DHL Índia (volto a referir que estou a falar da DHL, uma das maiores empresas do seu ramo), para saber o paradeiro do meu portátil e como o tirar de lá. Perguntas difíceis que demoraram quatro dias até que obtivesse resposta. De tantas vezes ter ligado para lá já sabia o número de encomenda de cor (que tem dez dígitos)

Dia 18 - Saio do trabalho mais cedo e chego aos Serviços de Alfândega por volta das 4horas da tarde. Acreditem quando digo que foi a maior lixeira que vi na vida. Inacreditável mesmo. E eu só pensava: "onde é que andará o meu portátil?". Pergunto onde era o gabinete da DHL (aquela que é uma das maiores empresas do seu ramo!). Após me ter perdido diversas vezes, alguém lá teve a amabilidade de me levar ao destino. Chego a uma sala, relativamente pequena, onde estão 50 pessoas e várias secretárias. Apontam-me para uma delas e dizem: "Aquela é a da DHL". Fiquei incrédulo. Uma secretária podre, como todas as outras e sem a mínima identificação. Problema seguinte: onde está a pessoa que supostamente estaria a trabalhar? Consigo que alguém entre em contacto com ele. Diz-me que estaria ali dentro de 15 minutos. Obviamente demorou 1 hora. Depois de 30 segundos a explicar-lhe o que estava ali a fazer diz-me: "Lamento, mas está no sítio errado...!". Que desespero! Diz-me que o sítio onde deveria ir ainda fica longe e que ali é impossível arranjar transporte. Ao perceber o meu desespero ofereceu-se para ajudar dizendo que me levaria lá assim que terminasse o trabalho. Disse que ainda demoraria 45 minutos. Demorou 15. Quando é para sair do trabalho é assim! Chego finalmente ao sítio certo já passava das 6h. Dizem-me tem que voltar amanhã. Os serviços aqui fecham às 6. Vá lá, desta vez achei normal. Pelo menos já sabia onde teria que ir no dia seguinte!

Dia 19 - À 1h da tarde já eu ia todo contente a caminho dos serviços de alfândega buscar o meu portátil que tanta falta me estava a fazer. Quando chego dizem-me que tenho que falar com o Oficial da Alfândega. Ok, não há problema... pensei eu. Depois de um bom tempo à espera de poder ser atendido, lá entrei e expliquei que era um portátil para uso pessoal, que não tinha intenções de o vender e a lenga-lenga do costume. Disse-me que teria que escrever uma carta a explicar isso e que teria de pagar as taxas de desalfandegamento. Felizmente mandaram alguém escrever a carta por mim e só tive que assina-la. "Estou pronto... vamos lá então buscar o computador!". Sou tão ingénuo. Qual quê... diz-me o homem: "Agora temos que ir calcular o valor a pagar e o portátil tem que ser inspeccionado pelos tipos da alfândega. Logo à noite ou amanhã de manhã ligamos-lhe para vir cá buscar o computador." Ui... desespero a alastrar-se...

Dia 20 - Não recebi qualquer telefonema no dia anterior nem na própria manhã. Decido deslocar-me mais uma vez à Alfândega. "De hoje não passa. Vou finalmente ter o meu computador". Continuo a ser um ingénuo. É feriado... Ligo para o apoio ao cliente aos gritos a dizer que preciso do portátil para trabalhar e que a situação está a demorar imenso tempo a resolver-se. Lá encontro alguém que se encontra a trabalhar. Esta nova personagem explica-me que não posso levantar o computador. Ele será entregue na morada indicada no dia seguinte. Ligo novamente para o apoio ao cliente a dizer que a morada era agora outra (demorou tanto tempo que eu entretanto já tinha saído do hotel e já estava a viver na minha casa). Novo dado: o computador não será entregue na manhã seguinte porque ainda não foi analisado. Apenas durante a parte da tarde...

Dia 21 - Computador nem vê-lo. Volto a ligar e dizem-me que ainda não foi inspeccionado. Volto a avisar que mudei a morada e deixo bem claro que o computador tem que ser entregue no dia seguinte de manhã pois da parte da tarde ia ser do país. "Com certeza. Não se preocupe". É a mensagem que me transmite. Mando ainda um mail, como pedido, para que fique escrita a minha nova morada.

Dia 22 - "Finalmente vou ter o computador". Sou cada vez mais ingénuo... Tinha que sair de casa às 2h da tarde. Ligo ao meio-dia, mais uma vez para o serviço de apoio ao cliente, onde já devo ter falado com todos pelo menos duas vezes. Dizem-me: "Tentamos entregar o computador esta manhã mas ele não foi recebido por não se encontrar no local". Pergunto: "Para que morada é que foi enviado?". Resposta, óbvia e mais que esperada: "Grand Godwin Hotel". Ui... até tive pena do que aquele homem ouviu de mim nos dois minutos seguintes...! Ligo ao meu chefe e pergunto-lhe se o computador pode ser entregue no escritório ao que ele acede. Ligo novamente ao serviço de apoio ao cliente (que também já sabia o número de cor) e aviso para mudarem mais uma vez a morada.

Dia 23 - Domingo

Dia 24 - Já eu me encontrava na Tailândia quando finalmente o computador foi entregue!

20 dias demorou o computador a sair de Portugal até chegar às mãos de alguém na Índia... Simplesmente inacreditável.

Agora é que reparei o quanto já escrevi. Peço desculpa, mas é só para terem uma pequena amostra da frustração que eu tive durante todo este tempo.

É assim que vai decorrendo o dia-a-dia na Índia. Um mundo à parte...

5 comentários:

S. disse...

Bem, que odiseeia! Estava-se mesmo a ver que o portatil ia ser "rejeitado" pela alfandega e recambiado para Portugal! ;)

Joao Pedro Santos disse...

textos infindáveis? ricardo? isso da india está mesmo a fazer-te mal...
:P
apesar dos atrasos de 3ºmundo espero q continues a gostar.
abr.

Simãozinho, o Bife disse...

Epah, isso é que é qualidade de serviço heheh. Eu aqui em Londres sofro do problema inverso. É tudo tão certinho e by the book que o espirito tuga aqui na resulta muito bem...enfim, em roma, sê romano.
Abraço

José Miguel G. disse...

É nestas alturas que pensamos Portugal é um paraíso!

Eu fiquei nervoso só de ler o post...não imagino como é que aguentaste!

Pensa que foi episódio único!

Abraço

Ricardo Silva disse...

Sara - acho que se o portátil fosse recambiado para portugal o meu ódio pela dhl levar-me-ia a cometer uma loucura qualquer

Joao - A india transforma as pessoas. Aqui o meu karma mudou. Tornei-me budista e passei a escrever textos infindaveis...

simão - em roma, sê romana; na india, por muito que quisesse (e não quero) jamais seria indiano

zé - o pior é que este episódio não foi unico. tenho a certeza que mais virao