segunda-feira, 19 de maio de 2008

Um fim-de-semana diferente

Cenário: Ganges River, perto de Rishikesh, 250km a norte de Deli (o que significa 6horas de carro). Parque de Campismo sem electricidade.

Mais um fim-de-semana que passou por terras indianas. E que fim-de-semana! Ao fim de 2 meses pedi ao meu chefe para tirar o Sábado e pude finalmente ter um verdadeiro fim-de-semana (composto por dois dias...!). O destino era um parque de campismo no meio do nada a norte de Déli. A principal atracção era fazer rafting.
O grupo era composto por 8 pessoas: dois portugues, eu e Kwame, a canadiana Sarah e uma mão cheia de franceses, nossos amigos de Déli.
A viagem de ida correu tranquilamente. Saímos na noite de sexta para sábado às 4 da manhã. Chegamos ao parque de campismo por volta das 10 da manhã.
Tomamos o pequeno-almoço (tradicionalmente indiano) e toca a vestir o fato de banho, pôr o colete salva-vidas e o capacete e entrar no insuflável para 3 horas de rafting. O percurso era de 25km e relativamente calmo. Passamos apenas por duas ou três zonas mais apertadas o que deu ainda mais encanto ao “passeio”. Pelo meio deu ainda para fazer “body surfing” (aproveitar os rápidos mais calmos, atirarmo-nos à água e deixar que a corrente se encarregue de nos levar).
Findo o percurso voltamos ao parque de campismo para o almoço. O resto do dia foi de absoluta tranquilidade. No meio da natureza, sem carros, sem buzinadelas, sem tuk-tuks, sem vacas no meio da estrada! Absolutamente fantástico.
Chegou a noite (por volta das 7 já é completamente escuro) e não tinhamos electricidade. Acendeu-se uma fogueira e umas quantas lamparinas, serviu-se o jantar e ficamos em amena cavaqueira até às duas da manhã.

No dia seguinte acordamos, tomamos o pequeno almoço e tivemos tempo para mais desportos radicais, desta vez, rappel (ainda não tenho as fotos de domingo, mas assim que tiver ponho-as aqui). O resto do dia foi de absoluto relaxamento, entre estar sentados nas espreguiçadeiras, jogar volley e uns quantos banhos nas margens do rio para refrescar do imenso calor que se fazia sentir.
As 4h30 da tarde era hora de partir. Sorte das sortes, foi nesse preciso momento que começou a levantar-se um temporal enorme que nos acompanhou até Déli (digo sorte das sortes porque mais valeu que tenha sido na viagem de regresso do que durante a estadia). De qualquer das formas, graças a esse temporal, uma viagem que normalmente duraria 6 horas (o que já de si é ridiculo para uma distância de 250km) acabou por durar 9horas...

Deixo-vos então algumas fotos daquele que foi de longe o melhor fim-de-semana dos últimos tempos.


O Parque de Campismo

O interior das tendas

A primeira refeição

O grupo: (da esq. para a dir.: Aline, François, Florence, Eu, Arnaud e Sarah. Em baixo Ben e Kwame)

No barco

Body Surfing

Mergulhar a partir das rochas


Vista do parque

Ao fim de alguns meses finalmente algum desporto praticado...

O nosso frigorífico improvisado!

Aperitivos... batatas-fritas, amendoíns, galinha... a comida não parava de chegar

À volta da fogueira

Estrada de montanha. Curva contra curva. Precipícios bastante altos. Segurança nas estradas indianas acima de tudo!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Planear viagens por estas bandas

Desde o dia em que soube que viria para à India comecei de imediato a planear mentalmente 1001 viagens. Tantos monumentos, tantas cidades e tantos países vizinhos para visitar.
Cedo percebi que seria impossível ver tudo o que queria pelo simples facto de trabalhar aos Sábados. Começamos então a planear uma viagem para o fim do estágio, em Agosto, com a duração de um mês. O plano inicial seria visitar o Nepal, o Tibete, o Butão e o Bangladesh. Com o passar do tempo percebi que o plano iria forçosamente sofrer alterações...

Eis o porquê:

Tibete – confusões atrás de confusões tornam impossível a entrada neste país...;
Nepal – é possível visitá-lo mas não podemos entrar em qualquer manifestação pró-Tibete. Há duas semanas foram presas 600 pessoas que se manifestavam contra a China;
Butão – é dos países mais bonitos da Ásia, mas é ao mesmo tempo dos países mais dificeis de visitar. O visto custa a módica quantia de 200 US doláres por DIA!;
Bangladesh – está neste momento com alerta vermelho para turistas. Tudo porque decidiram recentemente fazer atentados terroristas nos principais pontos turisticos;
Myanmar (ou Birmânia) – quando soube da dificuldade dos outros países ponderei a hipótese de visitar este país pela sua (relativa) proximidade geográfica... Na semana passada: “Ciclone mata mais de 100mil pessoas e deixa o país completamente caótico”. Acho que está eliminada esta hipótese...

Entretanto, esta semana mais uma notícia agradável: Atentado em Jaipur (é uma das principais cidades turísticas da India, fica a 200km de Déli e faz obviamente parte do nosso roteiro para um fim-de-semana) faz 80 mortos...

Como podem ver, é complicado planear o que quer que seja para estas bandas tal a instabilidade que se vive. Para a minha mãe certamente o melhor seria fazer já as malas e pôr-me a caminho de Portugal. Acho que vamos optar por uma táctica diferente: Ir andando e rezando a todos os deuses, a Alá, ao Dalai Lama, ao Papa, ao Pároco da Junta de Freguesia de Fiães, para que a Natureza e os Terroristas se acalmem.

P.S.: Uma desgraça nunca vem só (neste caso várias desgraças)... Terramoto na China...

sábado, 10 de maio de 2008

Newsletter Contacto

Ao fazer parte do Programa Inov Contacto fiquei, logo à partida, com o dever de escrever um artigo para a Newsletter do programa. Tinha que escrever um texto onde falava sobre a minha experiência profissional assim como pessoal. Uma vez que existem algumas diferenças entre o texto que eu escrevi e o texto que foi publicado aqui fica o original (digamos que ao ser publicado o meu texto levou um corte de cinco parágrafos...)

Índia: A “Terra das Oportunidades” cheia de dificuldades

Pela primeira vez desde que se iniciou o Programa Contacto foram enviados estagiários para a Índia. Eu tive a sorte de ser um desses Vascos-da-Gama do séc. XXI.

Portugal descobriu o caminho marítimo para a India há mais de 500 anos, mas infelizmente não soube dar continuidade a essa descoberta no mundo dos negócios. Apenas em 2007 foram enviados estagiários do Contacto para a Índia. Apenas em 2007 um Primeiro-Ministro português visitou a Índia. Apenas em 2007 um Presidente da República português esteve na Índia. Apenas agora estão a ser dados os primeiros passos. Entretanto os restantes países ocidentais já se encontram na Índia há mais de 10 anos. Tudo isto num país que representa um sexto do mercado mundial e que pode ser considerada a verdadeira “Terra das Oportunidades”.

Quatro meses passaram desde a minha chegada a Nova Déli e, aquilo que me foi possível ver até ao momento, a Índia, apesar de ser um mercado enorme, é um mercado extremamente difícil de entrar. A principal razão de o ser são precisamente os próprios indianos. Várias são as razões que me levam a escrever isso. A principal delas prende-se com, aquilo a que chamamos em português, a “preguicite aguda”. É de facto impressionante a forma de trabalhar dos indianos. A preguiça aliada a constantes tentativas de escapar ao trabalho é uma arte que não está ao alcance de todos. Relacionada com esta arte de escapar ao trabalho estão as mentiras. Após dois dias de trabalho na Índia já tinha perdido a conta ao número de mentiras. Desculpas como “Não recebi o e-mail” (tendo-o obviamente recebido), ou “Tratarei da situação o mais rapidamente possível e entro em contacto consigo daqui a uma hora” (quando obviamente não o vai fazer e numa fase posterior ignora as chamadas telefónicas da mesma pessoa), ou ainda “Estou neste momento a sair do escritório” (quando apenas se planeia sair dali a duas horas) estão entre as mais frequentes.

Outra das dificuldades imposta pelos indianos é uma certa arrogância para com o estrangeiro ao nível do mundo empresarial (não só a esse nível, mas neste momento tento apenas focar-me nesse aspecto). Essa arrogância provém dos próprios indianos terem percebido o potencial do seu país e o quão atractivo este se tornou aos olhos do mundo ocidental.

Após viver quatro meses na Índia deparei-me com outra conclusão: para se triunfar aqui é necessário apostar muito mais no volume de vendas do que no valor. Tudo isto porque para os indianos (desde o pequeno comerciante que tem um quiosque na esquina até à maior empresa indiana) o que interessa é o preço e não a qualidade. Para triunfar na Índia é necessário baixar ao máximo os custos de produção. Para triunfar na Índia é nec8essário baixar ao máximo os preços. As consequências são óbvias: má qualidade dos produtos.

O melhor exemplo para descrever as dificuldades de penetração no mercado indiano é precisamente a empresa onde estou a estagiar: a Critical-Links. Há dois anos foi estabelecida uma parceria com um intermediário indiano (uma pequena empresa especializada em ajudar empresas estrangeiras de telecomunicações a entrar na Índia). Há seis meses foi finalmente assinado um acordo com uma grande empresa de software e hardware, a maior da Índia, responsável, entre outras, pela produção do nosso hardware. E apenas há dois meses foram vendidas as primeiras unidades do nosso produto: a edgeBOX.

Em jeito de conclusão, se um dia me perguntassem qual a característica mais importante que uma empresa estrangeira tem que ter para triunfar na Índia a resposta seria fácil: paciência!

Toda esta experiência na Índia tem sido fabulosa tanto a nível profissional como a nível pessoal. Na Índia, e no exemplo concreto de Nova Déli, cada vez que se sai à rua encontra-se algo novo, algo diferente, algo... estranho!

A acompanhar o texto seguiu também esta bela foto



sexta-feira, 2 de maio de 2008

Sei que estou num país de loucos quando...

... vivo em Déli, a maior lixeira a céu aberto onde já estive, e alguém reclama com um fumador por ter mandado uma beata para o chão!
Não defendo que seja um gesto bonito... mas isto é Déli!