sábado, 10 de maio de 2008

Newsletter Contacto

Ao fazer parte do Programa Inov Contacto fiquei, logo à partida, com o dever de escrever um artigo para a Newsletter do programa. Tinha que escrever um texto onde falava sobre a minha experiência profissional assim como pessoal. Uma vez que existem algumas diferenças entre o texto que eu escrevi e o texto que foi publicado aqui fica o original (digamos que ao ser publicado o meu texto levou um corte de cinco parágrafos...)

Índia: A “Terra das Oportunidades” cheia de dificuldades

Pela primeira vez desde que se iniciou o Programa Contacto foram enviados estagiários para a Índia. Eu tive a sorte de ser um desses Vascos-da-Gama do séc. XXI.

Portugal descobriu o caminho marítimo para a India há mais de 500 anos, mas infelizmente não soube dar continuidade a essa descoberta no mundo dos negócios. Apenas em 2007 foram enviados estagiários do Contacto para a Índia. Apenas em 2007 um Primeiro-Ministro português visitou a Índia. Apenas em 2007 um Presidente da República português esteve na Índia. Apenas agora estão a ser dados os primeiros passos. Entretanto os restantes países ocidentais já se encontram na Índia há mais de 10 anos. Tudo isto num país que representa um sexto do mercado mundial e que pode ser considerada a verdadeira “Terra das Oportunidades”.

Quatro meses passaram desde a minha chegada a Nova Déli e, aquilo que me foi possível ver até ao momento, a Índia, apesar de ser um mercado enorme, é um mercado extremamente difícil de entrar. A principal razão de o ser são precisamente os próprios indianos. Várias são as razões que me levam a escrever isso. A principal delas prende-se com, aquilo a que chamamos em português, a “preguicite aguda”. É de facto impressionante a forma de trabalhar dos indianos. A preguiça aliada a constantes tentativas de escapar ao trabalho é uma arte que não está ao alcance de todos. Relacionada com esta arte de escapar ao trabalho estão as mentiras. Após dois dias de trabalho na Índia já tinha perdido a conta ao número de mentiras. Desculpas como “Não recebi o e-mail” (tendo-o obviamente recebido), ou “Tratarei da situação o mais rapidamente possível e entro em contacto consigo daqui a uma hora” (quando obviamente não o vai fazer e numa fase posterior ignora as chamadas telefónicas da mesma pessoa), ou ainda “Estou neste momento a sair do escritório” (quando apenas se planeia sair dali a duas horas) estão entre as mais frequentes.

Outra das dificuldades imposta pelos indianos é uma certa arrogância para com o estrangeiro ao nível do mundo empresarial (não só a esse nível, mas neste momento tento apenas focar-me nesse aspecto). Essa arrogância provém dos próprios indianos terem percebido o potencial do seu país e o quão atractivo este se tornou aos olhos do mundo ocidental.

Após viver quatro meses na Índia deparei-me com outra conclusão: para se triunfar aqui é necessário apostar muito mais no volume de vendas do que no valor. Tudo isto porque para os indianos (desde o pequeno comerciante que tem um quiosque na esquina até à maior empresa indiana) o que interessa é o preço e não a qualidade. Para triunfar na Índia é necessário baixar ao máximo os custos de produção. Para triunfar na Índia é nec8essário baixar ao máximo os preços. As consequências são óbvias: má qualidade dos produtos.

O melhor exemplo para descrever as dificuldades de penetração no mercado indiano é precisamente a empresa onde estou a estagiar: a Critical-Links. Há dois anos foi estabelecida uma parceria com um intermediário indiano (uma pequena empresa especializada em ajudar empresas estrangeiras de telecomunicações a entrar na Índia). Há seis meses foi finalmente assinado um acordo com uma grande empresa de software e hardware, a maior da Índia, responsável, entre outras, pela produção do nosso hardware. E apenas há dois meses foram vendidas as primeiras unidades do nosso produto: a edgeBOX.

Em jeito de conclusão, se um dia me perguntassem qual a característica mais importante que uma empresa estrangeira tem que ter para triunfar na Índia a resposta seria fácil: paciência!

Toda esta experiência na Índia tem sido fabulosa tanto a nível profissional como a nível pessoal. Na Índia, e no exemplo concreto de Nova Déli, cada vez que se sai à rua encontra-se algo novo, algo diferente, algo... estranho!

A acompanhar o texto seguiu também esta bela foto



5 comentários:

Joao Pedro Santos disse...

belo texto ó vasco da gama!
tenho curiosidade de saber como ficou o "oficial".
parabéns por tudo :)

planos para o futuro?
sinto-me um pouco aborbeletado a dizer isto, mas já tenho saudades tuas!

abraço,
joao

Anônimo disse...

Mas o postado não é o original?

bem, seja o que for, é belo sim senhor!
Um abraço e muita paciência para os Indianos....

guli disse...

tinhas mesmo de usar a palavra "penetracão"...
Se calhar foi por isso que eles comecaram a censurar a coisa.

Anônimo disse...

Desculpa correcção Mário Soares já lá esteve na India como Presindente.

Ricardo Silva disse...

Joao - o oficial foi cortado em cinco paragrafos (nomeadamente aquele em que critico o aicep e portugal...)

Joao Nuno - O que aqui está postado é o original. Paciência é coisa que se esgota... mas ainda há um bocadinho de nada...

Guli - a palavra tinha que ser usada... o aicep é que tem uma mente deturpada. foi com boas intenções. Juro!

Anónimo - Quando escrevi o texto confesso que nem fiz qualquer pesquisa sobre o assunto. Apenas me tinha dito que Cavaco Silva tinha sido o primeiro presidente da república na india e eu acreditei. De qualquer das formas obrigado pela correção. Contudo, a minha crítica mantem-se: apesar de já cá ter estado um presidente da republica não houve uma sequencia lógica nas relações entre os dois países que Portugal podia e devia ter aproveitado em seu benefício.