segunda-feira, 3 de março de 2008

A Aventura de encontrar Carne de Vaca em Déli

Estou na Índia há pouco mais de três meses e já sabia, antes de ter vindo, que encontrar carne de vaca seria muito complicado. Após os primeiros dias, em que jantei em vários restaurantes (desde italianos a indianos passando por chineses e outros tantos ocidentais), confirmaram-se os meus receiros. Ainda encontramos alguns sítios em que na ementa dizia “tenderloin” (cujo o sinónimo em português é bife) mas que não era certamente carne de vaca (em alguns sítios até era bom... mas repito, não era carne de vaca).

Passados quase três meses e após ter mais alguma confiança com os meus colegas de trabalho acabei por perguntar a um deles (católico de nascença) se seria possível encontrar o fruto proíbido. A resposta, para meu espanto, foi afirmativa. A esperança voltou.

Há umas semanas atrás, num Domingo, dia santo, decidimos então partir em busca do tesouro, qual Indiana Jones em busca da esmeralda perdida! Disseram-nos que o local apropriado para encontrar seria no Bairro Muçulmano. O gang era composto por mim, o Kwame e a Sarah. Alugamos um táxi e durante o caminho, enquanto eu ressonava profundamente, eles souberam que deveríamos ser discretos e perguntar por Talhos Muçulmanos e nunca perguntar por carne de vaca. O táxi deixou-nos à entrada do bairro, um dos com pior aspecto que vi em Déli. Eu, ingénuo como sempre, sem ter ouvido a conversa no táxi, decidi avançar e perguntar numa gesthouse onde é que podia encontrar um talho. Não perceberam bem e fiz nova pergunta: “Onde é que posso encontrar carne de vaca...?”. A resposta foi “não sei” e quando começaram a falar em hindi e um deles explicou o que é que eu queria recebi um olhar reprovador. Primeiro incidente, mas nada de preocupante. A aventura contínua. Perguntamos mais umas indicações e lá caminhamos nós pelo meio do bairro muçulmano, pelas ruelas estreitas, com os fios de electrcidade descaídos, quase a tocar-nos na cabeça, e sempre sob o olhar atento e desconfiado dos muçulmanos. Encontramos finalmente um talho muçulmano. Estavamos mais perto que nunca. Após ter metido àgua na primeira tentativa, disse discretamente à entrada ao Kwame: “This time you’ll do the talking”. Analisamos o local. Perguntamos se era um talho muçulmano. A resposta foi: “querem carne de vaca?” Meio embaraçados, com ar de culpa como se tivessemos acabado de cometer um pecado, acenamos com a cabeça em sentido afirmativo. “Voltem amanhã que hoje já esgotou”. Mais um acidente de percurso, mas quem espera sempre alcança. Continuamos a vaguear pelo bairro. Visitamos mais três ou quatro talhos e nada. O desânimo começava a apoderar-se das tropas. Voltamos para o táxi cabisbaixos. No entanto ainda havia esperança. Tinham-nos indicado um outro sítio onde poderíamos encontrar o “produto”. A precisar de uma bela dose de bife, ressacados por três meses de ausência de proteínas de carne de vaca no corpo, lá nos pusemos a caminho. Desta vez o sítio era ligeiramente mais apresentável se bem que o último estrangeiro que lá entrou data de 1957 e do qual nunca mais se ouviu falar. Após termos encontrado um “guia” para nos levar ao local certo lá chegamos ao oásis. Analisamos novamente o talho e o “produto”. Não se parecia lá muito com carne de vaca (para ser sincero só conheço o aspecto da carne de vaca no prato e já cozinhado... nunca fui muito dado a ir ao talho), mas acabamos por comprar. Todos contentes por finalmente termos encontrado bife em Déli lá fomos para casa cozinhar.

Os chefes Kwame e Sarah encarregaram-se dos cozinhados.

Resultado: uma hora depois estavamos na sala a comer pizza... Mais uma vez, aquilo não era o produto que procuravamos, ou então não era 100% material puro.

Mais uma experiência inesquecível que fica para a história desta minha, já de si inesquecível, passagem pela Índia.

Beijos e abraços a todos

P.S.: Qualquer semelhança entre procurar carne de vaca em Deli ou droga em Portugal é pura coincidência!

(A qualidade das fotos não é a melhor. Devido ao perigo da missão em que nos encontravamos tivemos que tirar as fotos em modo câmara oculta!)


6 comentários:

Catxi disse...

Ricardo são vocês com a carne de vaca e eu com o peixe, cá só há salmão daquele cheio de gordura ou peixe de rio a saber a lodo. Não imaginas tu as saudades que eu tenho de uma douradinha ou uns carapaus. Realmente não há comida como em Portugal. Mas se ai houver bom peixe a gente faz uma troca,eu mando-te carne de vaca e tu mandas-me um peixinho, boa?!?

Anônimo disse...

Meu primo banana… vou admitir aqui pois sei que sou o único a ver o teu blog, que estou orgolhoso de ti. Isto porque acredito que sejas o primeiro e único cowboy de nova deli.. abraço e continua a explorar a aldeola. divert t

Simãozinho, o Bife disse...

Ricardo, deixa de ser esquisito...com tanta vaca louca porque hão de vcs querer comer essa carne??? Dediquem-se a nova comidas, muito mais saudáveis. Mas mantenham esse nível de aventuras...
Abraço

Anônimo disse...

Pareceu-me dificil e arriscada a Missão! Mas admiro a vontade e dedicação que vocês empenharam nesta busca!
Mas pelos vistos deve ser normal haver desse tipo de carne nesses bairos! pela pergunta que vos mandaram logo à entrada!
Mas como o simão diz! Aventurem-se em novos pratos ! deixem as Pizzas!
Mas claro que ao mesmo tempo compreendo-vos!
Eu aqui tenho dificuldade de tirar o pedaçinho de carne da piscina de molho que estes gajos utilizam nos pratos! Mas não me posso queixar!
Boa sorte para as novas aventuras!
Abraço a todos!
é pá compra-se tudo na net! Achas que seria possivel?
investiga!

José Miguel G. disse...

Se queres comer um bom bife vem a Bangalore...é garantido!

De facto, jantar todos os dias subway e almoçar sempre pizza...ninguém aguenta!
Pelo menos há um pirâmide de ketchup a crescer lá em casa...

Abraço!

Tisha disse...

Ai o que eu me ri agora... não podes fazer isto muitas vezes! Ou então logo no início dizes: "Atenção, não ler isto durante o expediente"! É que depois dou estas gargalhadas estúpidas e fico aqui a soluçar de não poder rir... :)